segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CICLO IV - INICIAL: O espaço geográfico na atualidade

O espaço geográfico na atualidade

O espaço geográfico atual é resultado também da revolução tecnológica, especialmente na área da informática. Essa revolução teve início na década de 1970 e foi promovida para atender aos interesses eco­nômicos das grandes transnacionais.
Em apenas duas décadas a revolução da informática ligou instantaneamente os lugares e passou a integrar as diversas estruturas de todos os setores da economia, como vias de transporte, hidrelétricas, fábricas e em­preendimentos agrários. Conseqüentemente, o espaço geográfico se tornou extremamente técnico, capaz de funcionar como uma máquina eficaz para garantir o lu­cro das empresas transnacionais.
O computador tornou-se o instrumento básico das transnacionais, tanto das que produzem como daquelas que atuam no mercado financeiro.
A velocidade da informação globalizada aproxima os lugares e torna possível saber dos fatos ao mesmo tempo que ocorrem (on tine, "em tempo real"), estabelecendo ma relação imediata entre lugares e acontecimentos.
Assim, o computador permite uma resposta rápida , mudanças econômicas, políticas e sociais. Esse fato configura um novo espaço geográfico, que acelera a obtenção do lucro em escala mundial.
As maiores beneficiárias desse processo são as ativi­dadesfinanceiras. Agora o dinheiro pode fluir através o globo, passando a circular freneticamente, em pou­cos instantes. Para tanto, surgem pontos ligados por uma densa e ampla rede interativa de comunicações, que funciona sem parar. Dessa forma, locais estratégicos na superfície terrestre são interligados por computadores, televisões, cabos de fibra ótica, satélites etc. Graças a esses equipamentos, o mercado financeiro funciona todo o tempo e em todos os lugares, submetendo-se pouco
a normas jurídicas ou a qualquer controle. Em alguns lugares essa liberdade dos capitais é extrema. São os chamados "paraísos fiscais" (como as ilhas Cayman, no Caribe), onde as operações financeiras são privilegia­das por isenções de impostos e por sigilo contratual.
O mundo produz diariamente não mais do que US$ 50 bilhões, mas calcula-se que sejam movimenta­dos US$ 4 trilhões a cada dia.
No limite, esses computadores globais movimentam in­formações vitais para os grupos hegemônicos do sistema.
Os computadores são resultado de duas ondas tecnológicas:
· 1975-90: quando surgiram a informática, robótica, telecomunicações, biotecnologia;
· atual: que registra o surgimento dos softwares, po­derosos bancos de dados, comandos a distância para concepção e produção, sistemas inteligen­tes, mensageiros eletrônicos etc.
Essas duas ondas tecnológicas, impulsionadas pela ci­ência, promoveram a integração dos equipamentos liga­dos às áreas de telecomunicações, computação e robótica. Por isso, o espaço geográfico atual foi chamado, pelo geógrafo Milton Santos, de técnico-científico-informacional.
Nos Estados Unidos, por exemplo, só o comércio via Internet entre empresas - o business to business commerce, ou B2B - cresceu quase quinze vezes em cinco anos, passando de US$ 114 bilhões em 1999 para US$ 1,5 trilhão em 2004.
Nota-se que o avanço tecnológico amplia a ação das empresas e, por extensão, suas margens de lucro. Este é o principal resultado prático da criação das novas tecnologias na área da informática - ganhos maiores das grandes corporações multinacionais, propiciados por transações mais baratas e redução de funcionários.

O papel dos organismos internacionais

Entre 1988 e 2003 houve um crescimento notável das transações internacionais. Segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), as transações comerciais cresceram 6,5% ao ano; no mesmo período, o PIE (Produto Interno Bruto) mundial teve um incremento anual de apenas 3,4%.
Essa expansão não teria ocorrido sem a interferên­cia dos países desenvolvidos sobre a política interna dos países subdesenvolvidos, geralmente endividados e dependentes. Tal interferência ocorre freqüentem ente por meio dos organismos internacionais, tais como o G8 (Grupo dos sete países mais ricos mais a Rússia), a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvol­vimento Econômico), a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI (Fundo Monetário Internacional), o BIRD ou BM (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, ou Banco Mundial) e até a Otan (Or­ganização do Tratado do Atlântico Norte). Vejamos al­guns exemplos.
Em 1975, o então presidente francês Valéry Giscard d'Estaing convidou os dirigentes políticos da Alemanha, EUA, Japão, Inglaterra e Itália para uma reunião no cas­telo de Rambouillet, perto de Paris.
O objetivo era discutir de forma informal algumas questões econômicas, especialmente a crise do petró­leo. Os participantes decidiram na época promover novos encontros todo ano. A partir de 1976 o Canadá também foi convidado, e assim se formou o G7. A Rússia integrou-se oficialmente nesse grupo a partir do encontro de Birmingham, em 1998, e o G7 se trans­formou em G8. Aliás, no encontro de Kananaskis, em 2002, os participantes convidaram a Rússia para exer­cer a presidência e organizar o encontro de 2006, pela primeira vez.
No encontro de Okinawa, em 2000, pela primeira vez participaram chefes de estado de diversos países da África, e formou-se o I'rEPAD (The New Partnersbip for Africa's Deve!opment). Esse plano de desenvolvimento para a África requer "um bom governo" (nas palavras do G8 e segundo seus critérios) e uma nova relação de igualdade com os países do Norte.
O encontro do G8 mais tristemente famoso foi o de Gênova, Itália, em 2001. Mais de 300.000 pessoas protestaram contra as políticas desenvolvidas pelo G8, e o jo­vem ativista Cada Giuliani foi morto pela polícia italiana.
O encontro de 2002 foi em Kananaskis, no Canadá. Esse lugar distante dos grandes centros urbanos foi es­colhido para impedir protestos maciços, como em Gênova. O encontro nas montanhas canadenses foi considerado um êxito, já que se conseguiu evitar gran­des manifestações. Assim o encontro seguinte, de 2003, foi no povoado francês de Evian-Ies-Bains, também si­tuado na periferia do país e de difícil acesso.
Embora o G8 insista que suas reuniões não têm po­der decisório e que são principalmente encontros infor­mais, elas exercem influência na política neoliberal do FMI, Banco Mundial, OMC etc.
No FMI - criado originalmente para fomentar o de­senvolvimento dos países mais pobres no imediato pós-guerra - são necessários 85% dos votos para aprovar uma resolução qualquer. No entanto, os Estados Uni­dos são seu sócio majoritário, concentrando 17% dos votos. Isso significa que, na prática, sem os Estados Unidos, o FMI não decide absolutamente nada! Em 1944, a Segunda Guerra Mundial ainda não havia acabado. Mas já estava claro que o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) seria derrotado pelos Aliados (Estados Unidos, União Soviética, França e Inglaterra). Desse modo, embora o conflito militar continuasse, os gover­nos já discutiam o pós-guerra. Um dos principais pro­blemas consistia em organizar a economia, uma vez que tanto a Primeira quanto a Segunda Guerra Mundial ha­viam sido conseqüência - direta ou indiretamente - da disputa entre os grandes países capitalistas.
Com o objetivo de discutir o funcionamento da economia no pós-guerra, 44 países enviaram 700 represen­tantes para uma grande reunião, iniciada em 1º de julho de 1944 na cidade de Bretton Woods, situada no estado de New Hampshire, Estados Unidos.
Na abertura da Conferência, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Morgenthau, falou da "cria­ção de uma economia mundial dinâmica, na qual os povos de cada nação terão a possibilidade de realizar suas potencialidades em paz e de gozar mais dos frutos do progresso material, numa Terra benzida por rique­zas naturais infinitas".
Por trás dessas belas palavras, estava o interesse dos Estados Unidos em garantir a eliminação de barreiras para seus produtos, num momento em que era o único país do Norte a dispor de excedentes de mercadorias. Os Estados Unidos queriam, também, facilitar seus in­vestimentos no estrangeiro e ter acesso livre às fontes de matérias-primas.
O Acordo de Bretton Woods, assinado no dia 22 de julho de 1944, tratava de três assuntos: sistema monetário internacional, regras comerciais e planos de reconstrução para as economias destruídas pela guerra.
Hoje não existe mais o mundo desenhado naquele Acordo. Mas continuam existindo duas instituições criadas pela Conferência de Bretton Woods: o Fundo Mo­netário Internacional (FMI), que começou a funcionar em 1º de março de 1947, e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD, mais conhecido como Banco Mundial), que se instalou ainda antes, em 27 de dezembro de 1945.
Supostamente, o BIRD foi criado para financiar projetos de recuperação e construção da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento econômico. Já o FMI teria a função básica de fornecer recursos financeiros, tal como um banqueiro de última instância, para aqueles países que apresentassem déficits nas contas externas, decor­rentes de conjunturas internacionais adversas.
Na prática, tanto o FMI como o Banco Mundial ganharam importância com a crise da dívida externa, nos anos 1980, quando emprestaram ou autorizaram empréstimos apenas para os países que se dispuseram a adotar os programas de ajuste propostos pelas duas entidades.
Tanto o FMI quanto o Banco Mundial são dirigidos por um "Comitê de Governadores". Cada país é representado por um governador. Teoricamente, os governa­dores elegem o presidente do Banco Mundial, mas, na prática, o presidente do BIRD é sempre um cidadão dos Estados Unidos, escolhido pelo governo norte-ame­ricano. Já o diretor-presidente do FMI é tradicionalmen­te um europeu. O dinheiro do FMI provém dos 182 países membros, dentre os quais o Brasil. Sem dúvida, manda no Fundo quem tem mais dinheiro investido, isto é, os Estados Unidos. A OMC, por sua vez, estabelece normas para comerciais entre países. Foi criada no imediato pós-guerra com o nome de GATT (General Agreement on Tariffs and Trade, "Acordo Geral de Tarifas e Comércio"). Nas últimas décadas, a OMC tem sido um dos principais instrumentos dos países ricos para promover a expan­são do comércio mundial. Para tanto, defende que os países membros adotem algumas estratégias, tais como:
· subordinação à Lei de Patentes e Propriedade In­telectual;
· formação de blocos supranacionais;
· eliminação das barreiras comerciais e privatizações.
Na atual conjuntura de grandes debates econômi­cos, nota-se, por outro lado, um grande esvaziamento da ONU (Organização das Nações Unidas), criada logo após a Segunda Grande Guerra para evitar novos con­flitos e promover a convivência pacífica dos povos. A importância da organização é relativizada pela atual predominância das questões econômicas, em detrimento das questões sociais e humanitárias.
O mais importante órgão da ONU é o Conselho de Segurança, no qual apenas cinco países, talvez os mais poderosos (França, Inglaterra, China, Rússia, Estados Unidos), têm poder de veto. Esse instrumento geral­mente é usado quando os interesses das potências não são contemplados.
Conselho de Segurança da ONU
Órgão com poder para autorizar ações internacionais, como imposição de sanções, envio de forças internacionais e uso da força contra países.
• Como é formado
É integrado por quinze países. Cinco são membros permanentes: EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha e
França. Outros dez membros têm direito à vaga por dois anos, em sistema rotativo.
• Como funciona o veto
Cada um dos cinco membros permanentes pode vetar qualquer resolução do Conselho.
• Como os membros rotativos são escolhidos
Eles são eleitos por todos os membros da Assembléia Geral das Nações Unidas.
• Como é o processo de votação
As resoluções são aprovadas com pelo menos nove votos, desde que não haja veto dos membros permanentes.
• Resoluções mais extremas do Conselho
- Em 1950, autorizou o uso da força para fazer com que a Coréia do Norte retirasse suas tropas da Coréia do Sul.
- Em 1990, advertiu o Iraque de que, se não desocupasse o Kuwait, "todos os meios" seriam usados para pôr fim à invasão.
Subdesenvolvimento: em busca de soluções
Para tentar solucionar o problema da falta de recur­sos financeiros, os países subdesenvolvidos costumam adotar algumas medidas, cujos resultados são bastante questionáveis. Dentre essas medidas e suas implicações, destacam-se:
· Exportação crescente de commodities (bens cujo preço é determinado pela oferta e procura internacional) que atendem ao interesse da agroindús­tria transnacional. Por exemplo, no Brasil, a produção de soja deverá crescer 225% até 2020, segundo organismos especializados. Esses dados
podem parecer extremamente positivos, mas também acarretam conseqüências negativas, como:
- deterioração dos termos de troca (as matérias-primas exportadas por esses países valem cada vez menos, em comparação com os produtos de alta tecnologia importados do mundo desenvolvido);
- deterioração ambiental (poluição causada pelo uso de agrotóxicos, desmatamento para novos cultivos, problemas ambientais por uso incor­reto do solo).
O que são commodoties?
O significado mais prático ou mais usual para esse termo refere-se genericamente aos bens primários ne­gociados nas bolsas de mercadorias ou de futuros.
Essas bolsas constituem um mercado organiza­do para a compra e venda de contratos. Esses con­tratos, por sua vez, são acordos formais e legais para entrega, em uma data futura, de bens, como trigo, ouro ou café. Outros "produtos" também po­dem ser assim negociados, como Letras do Tesou­ro, moedas ou ainda outros instrumentos financeiros, conhecidos como "opções" ou "índices". Tais con­tratos são conhecidos como "contratos futuros" e comprados e vendidos por meio de leilões, num pro­cesso competitivo.
· Empréstimos dos organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, e atração de investimentos estrangeiros (transnacionais) mediante incentivos fiscais oferecidos pelos governos dos países subdesenvolvidos. Em muitos casos esses recursos são usados para importar tecnologia, melhorar a infra-estrutura e moder­nizar a economia. Ao atrair transnacionais, bus­ca-se gerar empregos e divisas. Também nesse caso devem ser levadas em conta algumas impli­cações:
- aumento da dívida externa, isto é, todo o di­nheiro que foi tomado por empréstimo fora do país, em troca de juros e com garantia de paga­mento no final de um prazo definido. No caso do Brasil, a dívida externa foi alimentada tanto por governantes eleitos quanto por ditadores, empresas estatais, nacionais e estrangeiras. Deveria servir para promover o desenvolvimento econômico e social, mas sabe-se que houve muitos desvios e negociatas. Além disso, dívidas de empresas foram repassadas à responsabilida­de pública ou tiveram aval do Banco Central, que se obrigou pelo seu pagamento.
- remessa de lucros pelas transnacionais, que enviam os lucros obtidos nos países subdesenvolvi­dos para suas matrizes localizadas nos países desenvolvidos. Ocorre, assim, uma forte saída de divisas dos países subdesenvolvidos, fato que pode gerar déficit (prejuízo) em suas contas. As­sim, os países pobres tornam-se, na prática, ex­portadores de capitais, sob forma de remessas de lucros e pagamento dos juros da dívida externa.
· Abertura do mercado financeiro aos investidores estrangeiros. Os países oferecem altas taxas de juros para atrair dólares e assim obter recursos para pagar a dívida externa contraída. Esse artifício também tem conseqüências:
- permite a saída a qualquer hora dos capitais especulativos (recursos financeiros atraídos por juros altos);
- gera mais déficit, pois o volume que sai é sem­pre maior que o volume que entra;
- submete os países subdesenvolvidos às exigências de organismos internacionais, como o FMI, para obter novos empréstimos. Isso ocor­re porque o dinheiro só é liberado sob condi­ções rígidas, como:
1. obter superávit primário, ou saldo positivo das contas públicas, excluindo o serviço de dívidas anteriormente contraídas. Ta prática, significa arrecadar mais (cobrando mais impostos e tarifas da população) e gastar menos (reduzindo os gastos em áreas sociais), para que o Estado possa pagar a nova dívida que está sendo contraída. Nesse caso, as conseqüências podem ser nefastas, como educação e saúde falidas, forças ar­madas e segurança pública sucateadas, infra-estrutura obsoleta. Esse quadro está se tor­nando comum nos países subdesenvolvidos.
2. aplicar os preceitos do neoliberalismo ("O Esta­do deve ser mínimo e não-intervencionista"). Para tanto, o FMI vem pressionando os países subdesenvolvidos para que tomem as seguintes medidas:
- promovam a liberalização dos mercados (inclusive financeiros) para a entrada de produtos estrangeiros;
- efetuem privatizações, o que diminuiria os gastos do Estado.
Os mais críticos alertam que as práticas neoliberais podem gerar uma concorrência muito desigual com os produtos estrangeiros, cuja tecnologia incorpora vantagens em relação ao similar nacional. Ressaltam que, caso as empresas estrangeiras sejam autorizadas a produzir nos países pobres, o impacto positivo sobre a geração de empregos é mínimo, uma vez que a maioria dessas indústrias utiliza formas de produção extremamente automatizadas.
Por outro lado, a superação dos problemas dos países subdesenvolvidos passa pela adoção de alguns procedimentos óbvios:
· aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento;
· exportar produtos com maior valor agregado, isto é, mais elaborados, mais valorizados no mercado externo;
· erradicar o analfabetismo e oferecer uma educa­ção que seja compatível com um maior patamar tecnológico.
É sabido, porém, que tais medidas requerem ainda mais recursos, o que significa buscar mais empréstimos junto aos organismos internacionais. Deve-se ressaltar que os interesses nacionais precisam ser privilegiados, o que exige um combate severo à corrupção que assola muitos países subdesenvolvidos.
A organização Transparência Internacional é uma ONG voltada a combater a corrupção em escala global. Ela criou um índice que mede a corrupção pela percep­ção que os cidadãos têm de sua ocorrência. Valendo-se de questionários, atribuem notas altas para os países em que as pessoas têm dificuldades em identificar ou perceber a corrupção e notas baixas para aqueles em que a corrupção é mais comum, perceptível e facilmen­te relatada. Os países que obtiveram nota superior a 7 ­são considerados pouco corruptos. Dos 21 países da América Latina incluídos no levantamento, apenas o Chile (nota 7,5) está nesse patamar.

CICLO IV - INICIAL: Roteiro da aplicação da Situação de Aprendizagem

Roteiro da aplicação da Situação de Aprendizagem

Etapa l - Do GATT à OMC: um percurso espinhoso que se dirige ao desconhecido

Em 1948, período de esgotamento da Segun¬da Guerra Mundial, o cenário mundial (não era bem a escala mundial, mas sim Europa ocidental e EUA) favorece a busca da eliminação de qualquer tipo de conflito. Afinal, a tragédia estava vertendo sangue naquele momento e os custos para remover as ruínas e erguer um novo sistema econômico se anunciavam astronômicos.
Para se dinamizarem, as economias dependiam de relações econômicas para além da escala nacional. Dependiam da remoção dos protecionismos. É necessário assinalar que o protecionismo é uma chave importante para a interpretação dos conflitos e das proposições para resolver a questão dos fluxos econômicos internacionais.
A atividade que vamos sugerir começa com a leitura atenta de um texto informativo sobre os organismos econômicos internacionais:

1. Leitura do texto
Ao lado da ONU, funcionam as instituições e os organismos encarregados de regular, na escala mundial: 1. os problemas de financiamento das ope­rações de desenvolvimento; 2. de controlar a estabi­lidade das moedas e; 3. de amenizar e administrar as barreiras alfandegárias. As instituições que atuam em cada uma dessas missões são: o Banco Mundial, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCM (Organização Mundial do Comércio).
Com recursos que provêm de contribuições dos países membros (quase todos os países do mundo) e de títulos lançados no mercado finan­ceiro, o Banco Mundial empresta recursos finan­ceiros em longo prazo para os países necessita­dos, com taxas de juros reduzidas.

Por sua vez, o Fundo monetário internacional (FMI) é produto de um dos acordos de Bretton Woods em 1944. Atua em favor da estabilidade financeira dos países membros. Igualmente ao Banco Mundial, seus recursos são uma somatória de cotas de capitais dos países membros. Os em¬préstimos concedidos são como socorros finan¬ceiros e somente são autorizados após exame da política econômica do país beneficiário que deve estar de acordo com a linha de atuação do FMI. Atualmente são mais de 130 países membros.
Não há dúvidas de que no campo das relações econômicas internacionais, as trocas comerciais e a de serviços são de difícil negociação. A primeira tentativa de criar uma regulação se dá em 1948, com um acordo amplo sobre as tarifas alfandegárias e sobre o comércio (GATT). Esse aconte¬cimento está na origem da OMC (Organização Mundial do Comércio). O objetivo era favorecer a diminuição das barreiras alfandegárias, lutar con¬tra os protecionismos e facilitar assim o comércio. Sua missão era de fixar normas, regras, regulamentos e arbitrando as diferenças. Essas ações foram in¬terpretadas como meios de promoção da paz. Isso porque se entendia que o protecionismo é um fator de conflitos, que pode inclusive levar as guerras.
As novas rodadas de negociação do GATT foram incluindo mais países e mais produtos nos acordos. A última rodada foi em 1994, quando se resolveu criar a OMC (Organização Mundial do Comércio), um fórum permanente para as negociações, visando uma instituição que che¬gasse a ter poder de sanção sobre os países que não respeitassem os acordos.
No final de 2005, a OMC já contava com 149 membros. A Conferência Ministerial com representantes dos países membros é seu principal ór¬gão de decisão. As reuniões acontecem de dois em dois anos e nelas se definem as orientações e as reformas na regulamentação do comércio mundial.
A análise dos conflitos comerciais levados
I para a OMC mostra duas tendências: 1. um aumento dos litígios comerciais e, 2. uma concentração do comércio em poucos países (os EUA e União Européia controlam 40% do co¬mércio mundial). Os principais litígios comerciais se dão justamente entre esses dois gran¬des atores do comércio mundial (EUA e UE).
Em 1999, em Seattle nos EUA, a conferência da OMC sofre um grande abalo. Os conflitos entre

EUA e a União Européia, a presença mais ativa dos países em desenvolvimento, a irrupção dos movi¬mentos antiglobalizaçào e outros que propõem ou¬tra globalização, paralisaram as decisões. Aumenta aí a desconfiança sobre a eficácia das instituições multilaterais para atuar num mundo marcado por forças desiguais e interesses contraditórios. As quei¬xas fundamentais sobre a regulamentação do co¬mércio mundial referem-se ao papel marginal dos países mais pobres, cujos interesses são atropelados pelas potências econômicas. A OMC não estaria resolvendo uma postura e os conflitos que existiam anteriormente às regulamentações.
A situação evolui l.ill1 pouco em 2001. A nego¬ciação foi mais transparente e dela se extraiu um programa de desenvolvimento. Mas, esse processo é bloqueado na rodada seguinte, em razão das posições inconciliáveis em tomo da questão agrícola:
EUA, União Européia, G20 (grupo dos países emergentes), países da África, protagonizam os desentendimentos. O G20 e os países africanos mos¬tram seu descontentamento com os EUA e a União Européia que insistem em manter subsídios à suas agriculturas, uma clara forma de protecionismo.
Na rodada de 2005 (Hong Kong) chega-se a um acordo parcial a respeito dos subsídios agrícolas:
EUA prometem atenuar as subvenções à agricultura até 2013. Há que se aguardar, mas no momento o que se vê é a força da lógica anterior a OMC valendo no interior dos organismos econômicos internacionais: um mundo sem regulamentações, ou um mundo no qual as regulamentações se ajustam mais aos interesses das grandes potências.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O relevo terrestre
Estudamos até aqui o lento processo geológico que originou a crosta terrestre.
Uma plena compreensão do relevo, entretanto, exi­ge a consideração dos chamados agentes externos do relevo, responsáveis por sua configuração.
Chuva, vento, calor e frio, ou seja, as intempéries, agem sobre o relevo, desencadeando a erosão que desgasta as rochas e transporta seus detritos, acumulando os nas depressões da superfície terrestre.
Esse processo geomorfológico resume-se em três principais etapas - erosão, transporte e sedimentação; junta­mente com os agentes internos, como o tectonismo, deu origem às três principais estruturas geológicas existentes na crosta terrestre, que serão estudadas a partir de agora.
Os maciços antigos

São uma das primeiras formações rochosas terrestres, constituindo-se em blocos imensos de rochas antigas conhecidos também como escudos. São constituídos por ro­chas cristalinas, magmáticas e metamórficas, formadas na era Proterozóica. Por isso, apresentam maior resistência à erosão, embora já tenham sido bastante desgastadas, o que pode ser notado pelo seu formato mais arredondado.
Agora vamos identificar os principais maciços anti­gos da Terra.
Europa - Os maciços antigos são encontrados sobre-tudo na porção centro-norte do continente. De modo ge­ral, os maciços apresentam grande importância econômica, pois abrigam extensas reservas de minérios. a Europa, porém, são particularmente pobres. As raras exceções são algumas reservas expressivas de minério de ferro.
Os mais importantes maciços antigos europeus são:
· Alpes Escandinavos - Situados na península do mesmo nome, estendem-se pela Noruega e Sué­cia. Sua importância econômica reside na ocor­rência de algumas jazidas de minério de ferro.
· Montes Urais - Têm importância política, pois separam a Rússia européia da Rússia asiática. Apresentam também algumas jazidas minerais de grande importância comercial.
· Montes Peninos - Ocupam boa parte da Grã Bretanha. Durante a Revolução Industrial, suas reservas de ferro foram intensamente exploradas e, hoje, estão praticamente esgotadas.

América - Os maciços antigos concentram-se na leste. Na América do Norte, são destaques:
Planalto do Labrador - Situado na península do mesmo nome, no Canadá. Apresenta muitos rios planálticos, com grande potencial hidrelétrico.

· Apalaches - Posicionados paralelamente à costa Atlântica norte-americana, estão em parte recobertos por rochas sedimentares com grandes . jazidas de carvão mineral. Esse recurso energético tem sido utilizado desde os primórdios da indus­trialização dos Estados Unidos.
· Platô dos Grandes Lagos - Envolve os Grandes - lagos, que fazem a fronteira natural entre os Estados Unidos e o Canadá. É importante do ponto de vista econômico por possuir grandes reservas de minério de ferro, que - ao lado do carvão mineral dos Apalaches - impulsionou a.industrialização dos Estados Unidos a partir do século XVIII.

Na América do Sul, os maciços antigos mais impor­tantes são:
· Maciço das Guianas - Localizado entre o extremo norte do Brasil e ospaísesvizinhos (Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). Nesses pla­naltos encontram-se as nascentes do rio Negro, que, nas proximidades da cidade de Manaus, se encon­tra com o Solimões para formar o Amazonas.
· Maciço Brasileiro - Compõe grande parte do Cen­tro-Sul do Brasil. Sua importância econômica resi­de na presença de grande variedade e quantidade de recursos minerais, sobretudo metálicos, como o ferro e o manganês. Além disso, sua densa rede hidrográfica, predominantemente planáltica, apre­senta grande potencial hidráulico, que em grande parte já é explorado.

África - A África é o continente que tem a maior porcentagem de suas terras formadas por maciços cristalinos, fato evidenciado por seu litoral retilíneo e pelo relevo desgastado. Daí sua grande riqueza em minerais metálicos e em pedras preciosas, especialmente ao sul, onde afiaram os terrenos cristalinos. Dos metais mais consumidos pela atividade industrial, pelo menos trinta ocorrem em larga escala na África.

As bacias sedimentares

Durante a fase de formação da Terra surgiram áreas situadas em nível mais baixo que seu entorno. Ao lon­go de milhões de anos, essas depressões foram preen­chidas por detritos, isto é, sedimentos oriundos do processo erosivo que atingiu as áreas elevadas mais pró­ximas. Tal fenômeno ocorre desde a era Paleozóica, em escala imperceptível para o tempo de vida humana. Associa-se a essas áreas a ocorrência de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão, xisto e gás natural.

Europa - Entremeando os maciços antigos euro­peus, estendem-se vastas bacias sedimentares, que se formaram em depressões escavadas pelo gelo durante o último período glacial. Tratam-se de bacias até hoje muito ricas em carvão mineral, intensamente explorado em países como a Polônia (Silésia) e a Ucrânia (Donbass). São planícies percorridas por rios navegáveis, que cons­tituem um dos principais meios de transporte da Euro­pa. Vamos conhecer melhor as duas maiores:
· Planície Germano-Polonesa - Essa bacia possuía grandes reservas carboníferas, que impulsionaram o desenvolvimento das indústrias de base alemãs ainda no século XIX.
· Planície Russa - Estende-se por quase toda a Rússia européia. Constitui praticamente um prolongamen­to da planície Germano-Polonesa.

América - Bacias sedimentares formam a porção cen­tral da América do Norte e da América do Sul. No centro- norte do Canadá elas são recobertas pela floresta boreal ou floresta canadense, também chamada taiga. Mais ao sul começa a área das pradarias (prairies), que se estendiam até o centro-sul do território norte-americano. Essa vegeta­ção hoje está muito reduzida, já que os grandes belts (cinturões agrícolas) passaram a predominar na região.
Essas bacias apresentam terrenos planos, com solos extremamente férteis. Seu subsolo é muito rico em combustíveis fósseis, sobretudo petróleo, extraído mais ao sul, nas proximidades do Golfo do México.

Na América do Sul destacam-se três grandes bacias sedimentares:
· Orenoco - Drenada pelo rio do mesmo nome. Rica em petróleo, é em grande parte recoberta por florestas que apresentam grande biodiversidade.
· Amazônica - Muito vasta, é drenada pela maior bacia hidrográfica do mundo, formada pelos inúmeros afluentes do Amazonas que descem dos maciços situados nos limites norte e sul. A rique­za mineral atrai milhares de garimpeiros há dé­cadas. Abriga também a maior área florestal do planeta, a rica floresta amazônica, alvo de gran­de cobiça internacional.
· Pantanal - É a mais típica planície do continente sul-americano. Extremamente plana, é inundável no período das chuvas (verão), acumulando gran­de quantidade de sedimentos recentes. Sua co­bertura vegetal é complexa, pois reúne espécies de várias paisagens vegetais sul-americanas.

Ásia - Destaca-se nesse continente a bacia sedimentar Indo-Gangética, encra­vada entre o Himalaia e o planalto do Decã. Essa imensa bacia é drenada por dois rios principais: o Indo, que atravessa o Paquistão de norte a sul, e o Ganges, rio sagrado indiano, que segue o sentido oeste-leste Já na China estendem-se a planície da Manchúria e a Grande Planície Chinesa, drenadas pelos rios Huang-Ho (Amarelo), Yang-tsé (Azul) e Si-Kiang (das Pérolas).juntos, Índia e Paquistão possuem mais de 1,3 bilhão de habitantes, praticamente o 2lesmo número de habitantes da China. Essas imensas populações vivem sobretu­do às margens dos rios. Por isso, seus vales são conside­rados os maiores formigueiros humanos do mundo.

Os dobramentos modernos

São estruturas formadas por rochas magmáticas e sedimentares pouco resistentes, afetadas por intenso tectonismo, sobretudo durante o período Terciário. Nas zonas de choque das placas tectônicas, a superfície da crosta se enruga e se ergue. Em muitos casos, ocorre a subducção, fenômeno geológico caracterizado pela sobreposição de placas tectônicas que origina as mais espetaculares elevações do planeta Terra, como a Cordilheira do Himalaia. Esse dobramento moderno, que ainda se encontra em formação, resulta da penetração da placa Indo-australiana por debaixo da placa Eurasiana.
Geralmente, os dobramentos modernos dispõem-se ao longo das regiões próximas às bordas das placas tectônicas. Agora vamos conhecer alguns deles, distribuídos pelos continentes.

Europa - Os dobramentos modernos concentram­-se no sul do continente. Muitas quedas-d'água confe­rem grande potencial hidráulico aos rios que cortam " essas montanhas, alimentados pelo degelo dos picos. Outro destaque é a beleza natural de seu relevo aciden­:ado, que impulsiona bastante o turismo. Vamos conhe­cer melhor essas montanhas:
· Bálcãs - Encontram-se na península do mesmo nome, conhecida pela grande instabilidade polí­tica.
· Alpes Centrais ou Suíços - Encontram-se ao norte da península Itálica. Famosas estações de inverno atraem muitos turistas, gerando renda para países como a França, a Suíça e a Itália.
· Pireneus - Dividem politicamente os territórios da França e da Espanha.

América - As Montanhas Rochosas atravessam toda a faixa oeste da América do Norte, desde o Alasca até a fronteira com o México. A partir desse ponto, a cadeia
divide-se em dois ramos, chamamos pelos mexicanos de Sierra Madre Oriental e Sierra Madre Ocidental.
O rios dessa região são encachoeirados e apresentam de potencial hidrelétrico. O mais famoso é o Colorado, cujo leito, ao escavar a rocha, formou o Grand Canyon, um desfiladeiro com cerca de 1000m de profundidade, cuja atrai turistas do mun­do todo.
Ao longo da América do Sul estende-se a Cordilheira dos Andes, um gigantesco paredão rochoso paralelo ao litoral do Pacífico, da Vene­zuela até o Chile. Em verdade,essas espetaculares montanhas foram e continuam sendo criadas pelo entrechoque das placas tectônicas Sul-Americana e Nazca.

Ásia - No extremo oriente desse continente, encontra-se o Japão, um país formado por mais de quatro mil ilhas vulcânicas e situado no ponto de contato entre as placas tectônicas Eurasiática e do Pacífico. Nessa faixa de contato é intenso o vulcanismo, e por isso a região é conhecida como Círculo de Fogo do Pacífico.
A origem vulcânica é comprovada pelo relevo acidentado, onde mais de quinhentas montanhas têm altura superior a 2.000 m; entre estas destaca-se o sagrado monte Fuji, ponto culminante do Japão, com mais de 3.700 m de altitude. Esses dobramentos modernos desaparecem apenas em alguns trechos do litoral, dando lugar a algumas pequenas planícies.
Esse relevo montanhoso oferece vantagens e desvantagens ao Japão. Dentre as desvantagens, podemos destacar:
· inúmeros vulcões e constantes terremotos;
· carência de espaços mais favoráveis às atividades agrícolas e à urbanização;
·escassez de recursos minerais e energéticos.

Com relação às vantagens que o relevo acidentado propicia, destaca-se o potencial hidrelétrico dos rios encachoeirados. Essa fonte energética, apesar de ser totalmente explorada, não é suficiente para atender à gran­de demanda do país. Por isso, torna-se necessária a im­portação maciça de outras fontes de energia, como o petróleo.
Contudo, o principal dobramento moderno asiático é a cordilheira do Himalaia, uma gigantesca muralha natural que reúne as mais altas montanhas do mundo. O Himalaia formou-se pelo choque de duas gigantes­cas placas tectônicas, a Eurasiática e a Indo-australiana.

África - Esse continente é atravessado, na porção leste, pelo Rift Valley. Essa enorme falha geológica deverá, em futuro ainda muito distante, separar parte do extremo leste (o "Chifre da África") do restante do continente. Dentre os principais acidentes geográficos que têm origem nessa enorme fenda geológica, destacam-se dois:
· os lagos tectônicos, especialmente três: Niassa, Tanganíca e Vitória;
· os dobramentos modernos, especialmente dois picos: o Quilimanjaro, ponto culminante da Africa, e o monte Quênia, que, mesmo atravessado pela linha do equador, apresenta em seu cume neveves eternas.

As paisagens climatobotânicas (ou naturais)

Os diversos elementos do meio ambiente combi­nam-se de diversas maneiras na superfície terrestre. Tais combinações foram responsáveis pela formação dos biomas, grandes unidades da superfície que apresen­tam certa homogeneidade em aspectos como clima, solo, vegetação e agrupamentos de seres vivos.
Geralmente, os biomas são identificados pelos geógrafos a partir da sua formação vegetal típica, uma vez que essa apresenta características compatíveis com o clima dominante em sua área de ocorrência.
Resultado dessa interdependência entre clima e ve­getação, os biomas formam, em última análise, as cha­madas paisagens climatobotânicas, objeto de estudo de um ramo da geografia chamado fitogeografia, que ­estuda a distribuição das grandes formações vegetais pelo planeta.
Embora cada paisagem natural possa registrar. ­seu interior, pequenas diferenciações, guardam entre si um elevado grau de homogeneidade, especialmente nos aspectos de clima e vegetação, isto é, em suas características climáticas e fitogeográficas.
Como a vegetação é considerada "espelho" do ­ma, isto é, reflete as condições climáticas da sua área de ocorrência, estudaremos, em primeiro lugar, as características climáticas gerais para que possamos, em segui­da, retratar as grandes paisagens naturais da Terra.

O clima e seus fatores

Já sabemos que o clima de um determinado lugar é condicionado por alguns fatores, conhecidos como fatores climáticos. Esses fatores podem ser estáticos e dinâmicos. Os estáticos são:
Latitude - é a distância em graus entre um ponto qualquer da superfície terrestre e o equador. Devido à inclinação do eixo e à curvatura da Terra, as maiores latitudes sofrem uma forte oscilação das médias das tem­peraturas nos meses de janeiro e julho, fenômeno observado nos mapas a seguir.
Note que as médias térmicas são inversas nos dois hemisférios. Assim, no hemisfério norte, as maiores temperaturas são registra das no mês de julho, quando as médias térmicas são as mais baixas no hemisfério sul. Nos mês de janeiro, a situação se inverte, já que, no hemisfério norte, ocorrem as médias de temperaturas mais baixas, enquanto as médias são as mais altas no hemisfério sul.
Esse fenômeno se explica pela inclinação do eixo de rotação da Terra, cuja superfície fica exposta desigualmente aos raios solares.
A desigual incidência do sol é particularmente sensível em latitudes superiores aos trópicos. Nessas faixas climáticas, a incidência solar oscila ao longo do ano, resultando no fenômeno das estações do ano, inverti­as dois hemisférios. Assim, no inverno, os raios solares são mais oblíquos e também mais refletidos pela superfície terrestre, que, assim, se aquece menos.

A incidência solar não oscila tanto na região do glo­bo próxima à linha do equador. Conseqüentemente, a Zona Climática Intertropical - como é chamada essa região delimitada pelos trópicos de Câncer (ao norte) e de Capricórnio (ao sul) - não apresenta diferenças tér­micas significativas ao longo do ano.
Altitude - À medida que a altitude aumenta, a temperatura diminui, dada a menor capacidade das áreas montanhosas para reter a energia solar. Assim, a cada 1.000 m, a temperatura cai, em média, 6 °C. Além disso, nas maiores altitudes o ar é mais rarefeito, o que dificul­ta a retenção do calor.
Entre os fatores dinâmicos, destacam-se as massas de ar, que se deslocam de acordo com as diferenças de pressão atmosférica, isto é, das áreas de alta pressão para as de baixa pressão.

Outros fatores climáticos importantes:
· Vegetação - Em regiões densamente florestadas, como a Amazônia, o calor provoca a transpiração das plantas, que, associada ã evaporação da água em geral, dá origem à chamada evapotranspiração. Esta, por sua vez, determina em parte as condi­ções climáticas de uma dada região, uma vez que regula o volume de chuvas e as médias térmicas.
· Atividades antrópicas - Cada vez mais são apon­tadas como responsáveis por alterações climáticas. A atividade humana industrial, urbana e agrícola aumenta a concentração atmosférica de alguns ga­ses e aquece a média térmica da atmosfera do pla­neta. Esse aumento de temperatura causa impactos no clima global, criando situação de vulnerabilidade para a agricultura, aumentando o nível dos ocea­nos e afetando o ambiente global.

· Correntes marinhas - A correntes quentes, evidentemente, evaporam mais, aumentando a umidade relativa do ar, inclusive das áreas conti­nentais próximas. Esse fenômeno é responsável pela formação de nuvens e de precipitações. Por outro lado, os continentes banhados por corren­tes frias recebem menor influência da maritimida­de. Nessas áreas, há um predomínio marcante do ar seco continental, fenômeno conhecido como continentalidade, que pode inclusive ocasionar o aparecimento de desertos.

Fatores climáticos dinâmicos: as massas de ar em movimento

• O principal fator dinâmico do clima é o movimento do ar, o vento. Sua origem e sua direção estão ligadas aos deslocamentos de massas de ar, que tendem a se movimentar dos locais de maior pressão atmosférica para os locais de menor pressão.

A pressão atmosférica é resultado direto dos deslo­camentos do ar sobre a superfície terrestre. As regiões tropicais são geralmente aquelas que têm as pressões mais altas e, portanto, são dispersoras de ventos. Esses ventos, que se movimentam dos trópicos para o equa­dor, são chamados de alísios. Devido à rotação da Ter­ra, o ar não se desloca diretamente para o equador e sofre um ligeiro deslocamento para leste; assim, os alísios de nordeste têm origem no Trópico de Câncer; os alísios de sudeste provêm do Trópico de Capricórnio.
tropicais são geralmente aquelas que têm as pressões mais altas e, portanto, são dispersoras de ventos. Esses ventos, que se movimentam dos trópicos para o equa­dor, são chamados de alísios. Devido à rotação da Ter­ra, o ar não se desloca diretamente para o equador e sofre um ligeiro deslocamento para leste; assim, os alísios de nordeste têm origem no Trópico de Câncer; os alísios de sudeste provêm do Trópico de Capricórnio.

Os grandes climas do planeta e suas principais características

Vimos que os fatores climáticos, como a altitude, as massas de ar, as correntes marítimas e a posição latitudinal, se apresentam e se repetem em todos os quadrantes do planeta.
Levando-se em consideração esse fato, diversas classificações climáticas foram feitas. De maneira geral os principais tipos climáticos são:

Clima equatorial

Tipo de clima localizado entre 5°N e 5°S, ou seja, muito próximo da linha do equador. As principais áreas de ocorrência são as bacias do Congo e do Amazonas, ilhas do Sudeste Asiático e ainda da costa oriental da América Central.
As temperaturas médias anuais situam-se entre 24°C e 27 ºC, e a temperatura média mensal é sempre supe­rior a 18°C (o Sol anda sempre muito próximo do zênite ponto mais alto na abóbada celeste). A amplitude termica anual é inferior a 4°C, ou seja, as oscilações mínimas.
As chuvas são abundantes o ano todo, sendo raramente inferiores a 60 mm no mês. São de convecção, ou seja, oriundas do ciclo da água.



Clima tropical

• A área de ocorrência encontra-se entre 50 e 300 N e S, destacando-se partes da Venezuela e da Colômbia, inte­rior do Brasil, Sudão, porção oriental da África, parte da África do Sul, norte da Austrália e regiões da América Central. Suas temperaturas são constantemente eleva­das ao longo do ano, visto que o Sol se encontra quase sempre próximo do zênite. Assim, a duração dos dias e noites não varia muito ao longo do ano. A temperatura média anual é elevada, e as médias mensais são supe­riores a 18 De. A amplitude térmica anual é superior à do clima equatorial, oscilando entre 15 °C e 20 °C.
As chuvas são essencialmente de origem convectiva. No entanto, nas regiões montanhosas são comuns chuvas de origem orográfica. Nessas regiões montanhosas os totais anuais e mensais chegam a atingir valores muito elevados; por exemplo, no norte da Índia, numa localidade chama­da Cherrapunji, a média anual é de 11.440 mm, e em um único mês foram registrados 9.300 mm. Situação seme­lhante verifica-se nas serras próximas do litoral brasileiro. Mesmo assim, de maneira geral, as chuvas anuais nas áreas tropicais ainda são menores que nas regiões equatoriais.
O clima tropical caracteriza-se genericamente pela existência de duas estações ou períodos: a estação mais úmida e a estação seca.

Clima desértico

A área de ocorrência mais comum situa-se entre os 150 e 450 N e S, coincidindo com as faixas tropicais. São destaques o norte do México, o sudoeste dos EUA, todo o norte da África, a Arábia, o Irã, o Paquistão, o interior da Austrália, o sudoeste da África do Sul e a faixa for­mada por Peru e Chile.
As temperaturas sofrem grandes oscilações ao lon­go do dia, superiores a 30 °C, em função da pequena capacidade do solo de reter o calor. As temperaturas médias mensais são elevadas, situando-se acima dos 35 °C.
As chuvas são fracas ou inexistentes, sendo nor­malmente inferiores a 150 mm por ano. A precipita­ção ocorre sempre de forma localizada, como aguaceiros, sendo muito irregular, Pode ser desastro­sa, visto que, como não há vegetação, o escoamento é muito rápido e pouco proveitoso, formando-se tor­rentes de lama. A maior parte da água que cai evapo­ra em seguida.
A aridez, reforçada pela presença de correntes frias, que fornecem pouquíssima umidade para os litorais, é a principal característica do clima desértico.

Clima mediterrâneo

Sua área de ocorrência está entre 30° e 40° N e S, destacando-se a bacia do Mediterrâneo, o centro do Chile, o sul da África do Sul e o sul da Aus­trália.
As temperaturas são elevadas durante a maior parte do ano, chegando à média de 22°C anuais. No inverno, porém, as temperaturas são suaves. A amplitude térmi­ca anual não é significativa e fica próxima dos 15 ºC A média do mês mais quente é superior a 28°C, mas a média do mês mais frio nunca é inferior a 5 ºC.
As chuvas ocorrem principalmente nos meses de outono e inverno, e a precipitação tem origem frontal (associada à passagem das frentes frias). O total anual e precipitação é superior a 500 mm, mas é inferior mas é inferior a 1000 mm (média).
Podemos afirmar que esse clima tem como características gerais um verão quente, seco e prolongado e um inverno suave, chuvoso e curto.

Clima temperado continental

A principal área de ocorrência está entre 35° e 45° N, no interior dos continentes, em especial no nordeste e norte dos EUA, interior da península Balcânica, norte da China, interior da Coréia e do Japão e toda a parte centro-leste da Europa.
As temperaturas médias anuais são inferiores à do clima temperado oceânico (± 10 °c) A temperatura mé­dia do mês mais quente ultrapassa os 22 °C e a média do mês mais frio é inferior a O °C, o que significa consi­derável amplitude térmica anual.
As chuvas não são abundantes; aliás, a pluviosidade é baixa, se comparada à do clima temperado oceânico. Nas regiões montanhosas é ligeiramente mais elevada. As maiores precipitações concentram-se nos meses de verão, de origem convectiva, e no inverno, sob forma de neve. De maneira geral, o verão é quente, curto e chuvo­so; o inverno é muito frio, pouco chuvoso e mais pro­longado.

Clima temperado oceânico

A área de ocorrência encontra-se entre 40° e 65° i e S, com destaque para toda a parte Atlântica da Europa, do norte da Espanha até o sul da Escandinávia, o litoral sul do Chile, extremo sul da Austrália, Nova Zelândia e Tasmânia, litoral noroeste dos EUA e litoral sudoeste do Canadá. As temperaturas médias anuais estão em torno de 20°C e a amplitude térmica anual é considerável, embora diminuída pela proximidade do mar, que fun­ciona como elemento de equilíbrio térmico. Essas tem­peraturas baixas são amenizadas na costa atlântica européia porque o calor da corrente marítima do Golfo diminui o impacto do frio na região.

As chuvas, geralmente de origem frontal, são abun­dantes durante todo o ano. Não há meses secos. A ele­vada nebulosidade é característica, em função da alta umidade do ar.


Clima temperado continental frio

Sua área de ocorrência situa-se entre 45° e 60°/65° N, onde se encontra a Europa Oriental (sobretudo a Polônia e a Rússia), parte da Sibéria (faixa dos 55° N), norte da Manchúria, norte do Japão, norte dos EUA e sul do Canadá.
As temperaturas médias anuais são baixas. A média do mês mais quente não atinge 20°C e a média do mês mais frio é inferior a O 0e. As chuvas são poucas, com total anual inferior a 750 mm; no inverno as precipita­ções ocorrem quase sempre sob a forma de neve. Du­rante o verão ocorrem fortes elevações da temperatura. mas por curtos períodos.

Clima subpolar

A área de ocorrência situa-se entre 55° e 65° -, onde se localizam a Suécia, a Finlândia, o norte da Rússia (Sibéria), o Alasca e grande parte do Canadá. Faz a tran­sição do clima continental frio para o clima polar. As temperaturas médias anuais são muito baixas, e a mé­dia do mês mais quente não supera os 10°C; nos,meses mais frios essa média pode atingir -20 0e. As chuvas são escassas e a maior parte das precipitações ocorre sob forma de neve ao longo do ano.

Clima polar

Esse clima está presente nas latitudes mais elevadas, tanto ao norte quanto ao sul do planeta. As principais áreas de ocorrência são o norte da Sibéria, Alasca, Canadá, toda a Groenlândia, a maior parte da Islândia e a Antártida. As temperaturas são sempre muito baixas, não há uma estação quente. A média do mês mais quente não chega a 10 °C, e a média do mês mais frio é muito inferior a O °C. A média anual é a mais baixa de todo o mundo. No período correspondente ao verão o aqueci­mento do ar é prejudicado pela inclinação dos raios solares, que diminui a superfície de insolação na re­gião. As chuvas inexistem, e as precipitações ocorrem sob forma de neve.

Clima frio de montanha ou clima de altitude

A área de ocorrência desse clima está nas regiões de grande altitude das cadeias montanhosas. Todas as precipitações ocorrem sob forma de neve, e as temperaturas chegam, nos pontos mais frios, a -30°C; durante o verão não chegam a 10 °C. O principal fator que determina o frio é o ar rarefeito, em função da altitude, que impede a propagação do calor.

Nas regiões dos picos a superfície inclinada não é favorável a um aquecimento homogêneo e nem ã retenção de calor. Assim, a irradiação do calor é bem menor nessas regiões.
Observe agora, no mapa abaixo, a distribuição dos diversos tipos de clima na superfície do planeta. Essa imagem é fundamental para a compreensão das grandes paisagens climatobotânicas, que estudaremos a seguir.

As paisagens climatobotânicas da Europa

O principal fator climático europeu é a latitude, Atravessada ao norte pelo Círculo Polar Ártico, a Euro­pa está situada em duas zonas climáticas do hemisfério norte: na polar e na temperada,
Mesmo sendo o principal fator climático, a latitude não age sozinha, Outros fatores climáticos também atuam no continente:
· A corrente do Golfo (influência do mar) - Tra­ta-se de uma corrente marinha quente que ba­nha a costa atlântica européia, A evaporação dessas águas origina um clima úmido na Euro­pa Ocidental, chamado de temperado oceânico, que diminui a amplitude térmica (a variação de temperatura), tornando os verões e os invernos mais brandos,
· A continentalidade - No interior do continente predomina o clima temperado continental. Mais seco, registra grandes amplitudes térmicas e, por­tanto, verões e invernos muito acentuados,

Os grandes biomas europeus

Agora que conhecemos os tipos de climas dominan­tes na Europa, fica fácil compreender as formações ve­getais originais do continente:

• Paisagem do clima polar - tundra
A palavra tundra, de origem finlandesa Ctunturia), significa terra despida de árvores, Ocorre no extremo norte da Europa, constituindo uma paisagem molda­da pelo frio; o clima polar tem origem na massa polar ártica, que atua praticamente durante o ano todo, No inverno, os fortes ventos glaciais fustigam e destroem toda a vegetação rasteira que cobre o solo, As tem­peraturas são extremamente baixas, podendo atin­gir -30°C nos meses mais frios, A pressão atmosférica muito alta faz com que o ar seja relativamente seco; embora a quantidade de precipitação seja muito se­melhante à dos desertos, a taxa de evaporação é bai­xa e, portanto, a quantidade de água presente na tundra é adequada às diversas formas de vida lá exis­tentes, No verão a temperatura sobe, podendo atingir mais de O °C, o que permite que a vegetação se de­senvolva.
Especificamente, tundra é o nome dessa vegeta­ção rasteira, adaptada às baixas precipitações e solos pobres) com períodos de crescimento e reprodução muito curtos (brota e floresce em cinqüenta ou ses­senta dias). Trata-se de um conjunto composto por mais de 1.700 espécies de plantas que conseguem resistir a condições naturais muito adversas.
A tundra surge também nas altas montanhas que formam os dobramentos modernos europeus, precisa­mente na faixa de transição entre os pinheiros e as ge­leiras permanentes dos cumes.
O solo da tundra é praticamente impermeável devi­do à presença de uma fina película de gelo (permafrost), logo abaixo da superfície, Essa camada congelada do solo cria uma barreira ao desenvolvimento de raízes profundas, inibindo assim o crescimento de espécies arbóreas.
Durante o degelo, a água infiltra-se nas fendas das rochas, desagregando-as e transformando-as em solos propriamente ditos.
A tundra floresce num ciclo ininterrupto já há al­guns milhares de anos, É formada sobretudo por liquens, plantas originadas da associação simbiótica entre fun­gos e algas, Os liquens são muito resistentes às condi­ções climáticas do Ártico, mas muito sensíveis à poluição.

Embora os liquens e musgos sejam a, vegetação majoritária, existem outros tipos de plantas que tam­bém fazem parte da tundra, como pequenos arbustos e outras formações rasteiras.

· Paisagem do clima temperado continental ­taiga
Taiga é o nome russo usado para designar a floresta boreal, composta por algumas espécies de coníferas. Essa floresta se desenvolve ao sul da tundra, no norte da Escandinávia e da Rússia.
Resta apenas 0,3% da cobertura original dessas coníferas. _ o entanto, a adoção de políticas de reflorestamento tem permitido a expansão dessa floresta desde a década de 1990. Dois motivos justificam essa tendên­cia: a exploração comercial da taiga, cuja madeira é apropriada para a fabricação de papel e celulose, e a crescente conscientização ecológica do continente europeu.

· Paisagem do clima temperado oceânico - flo­resta temperada
A floresta temperada é a paisagem climatobotânica que ocorre no oeste da Europa, área em que predomi­na o clima temperado oceânico, com as estações bem: definidas, invernos relativamente rigorosos e verões quentes e úmidos. A vegetação compreende árvores de grande porte, muitas das quais latifoliadas, como nogueiras, carvalhos e faias. A floresta temperada também é conhecida como decídua ou caducifólia porque, para suportar o inverno rigoroso, as espécies latifoliadas perdem suas folhas no outono.
Atualmente, essa vegetação se encontra praticamente extinta na Europa. Restam apenas algumas pequenas ::lanchas, sob forma de bosques preservados, dada a grande expansão das atividades antrópicas em sua área de ocorrência, como a agricultura e o crescimento de áreas urbano-industriais.

· Paisagem da costa do Mediterrâneo -maquis e garrigues
Na Europa meridional, o clima denomina-se mediterrâneo e é caracterizado por registrar verões secos e quen­tes. Já os invernos são em geral úmidos e moderados, com temperaturas mínimas que variam entre 6 °C e 10 °C.
Essa alternância de inverno chuvoso e verão seco decorre dos efeitos revezados de ventos úmidos oci­dentais durante o inverno e do simum durante o verão, vento quente e seco oriundo de uma zona de alta pressão subtropical situada no coração do deserto do Saara.
A vegetação mediterrânea típica é complexa, formada por árvores (carvalhos, oliveiras, sobreiros), arbus­tos (murtas, urzes) e gramíneas.
Essas formações vegetais desenvolveram meios para reduzir a perda de água durante os verões quentes e
secos. As árvores e os arbustos, por exemplo, têm fo­lhas duras, pequenas e escuras, revestidas por uma es­pécie de cera vegetal. Diversas espécies apresentam ainda seus troncos revestidos por uma camada de corti­ça, que as protege das queimadas naturais, muito co­muns nos verões secos. Algumas espécies são decíduas, isto é, perdem as folhas nos meses de maior estiagem.
Ao longo dos séculos, essa vegetação foi muito modificada pelas atividades antrópicas, principalmente a exploração florestal, o pastoreio de cabras e ovelhas e a expansão da agricultura. O desmatamento exacerba­do resultou até na desertificação de algumas áreas, es­pecialmente na Espanha e na Grécia. Outro resultado desse impacto ambiental foi a degradação da vegetação de floresta natural, reduzida às formações arbustivas características da região, o maqui e a garrigue.
A vegetação conhecida como maqui é formada por arbustos altos, que chegam a 6 m de altura. Constituem densos aglomerados, quase impenetráveis.
A garrigue (charneca, em Portugal) é composta de arbustos perenes anões de até 50 cm de altura, esparsos. Seus arbustos são freqüentemente espinhosos ou aro­máticos, propriedades desenvolvidas para a defesa das plantas contra os animais que se alimentam delas. Mui­tas ervas com fins culinários tiveram as suas origens na garrigue: lavanda, alho, salva, alecrim, tomilho. Duran­te a primavera, seu período de reprodução, a garrigue ostenta um magnífico leque de cores, que reflete a diversidade de espécies vegetais.
Paisagens climatobotânicas da África,
o continente espelhado

Esse continente foi chamado por geógrafos france­ses de "continente espelhado". Esse título é uma alusão ao fato de ocorrerem nesse continente paisagens simétri­cas. Ou seja, as mesmas paisagens climatobotânicas são encontradas tanto ao norte quanto ao sul do equador.
Tal simetria decorre, sobretudo, da latitude, fator climático determinante na formação dos biomas africanos. O fenômeno deve-se ao fato de que a África é o único continente realmente centrado sobre a linha do equador. Assim, durante todo o ano os raios solares incidem diretamente sobre boa parte do continente, que apresenta uma temperatura média anual superior a 20°C (é o mais quente de todos). Em direção às extremida­des norte e sul, porém, o clima quente se atenua, tor­nando-se temperado. Vamos conhecer melhor as grandes paisagens naturais desse continente.

· Paisagem do clima equatorial- floresta equa­torial africana
Na faixa equatorial há um permanente verão. A temperatura é sempre muito elevada, o que acarreta evapo­ração intensa, baixa pressão e, conseqüentemente, um período chuvoso que se estende por dez ou onze meses.
A bacia do rio Congo (África Ocidental), por exemplo, área dominada pelo clima equatorial, caracteriza-­se pelas elevadas temperaturas e chuvas abundantes durante todo o ano. Nenhum outro bioma terrestre tem um clima tão uniforme. A amplitude térmica anual, por exemplo, nunca ultrapassa 6 0c. Nesse clima quen­te e úmido desenvolve-se a mais rica e exuberante formação vegetal da Terra: a floresta equatorial, um denso emaranhado das mais variadas espécies vege­tais, povoado por uma fauna numerosa e diversificada. Essa floresta, sempre verde, rica em espécies megatermicas, hidrófilas e latifoliadas, formam um emaranhado compacto, onde se sobressaem árvores com até 50 metros de altura. Essa exuberante variedade de árvores, acrescida de grande quantidade de cipós, a tor­na abafada e úmida.
A floresta tropical pluvial africana é uma vegetação exuberante, composta por vários extratos, que abarcam desde as árvores mais altas (abóbada) até a subselva, formada por pequenas árvores adaptadas ã sombra. Mais _baixo ainda, estão as ervas e os arbustos que toleram
condições sombrias. As grandes árvores são dotadas de raízes muito resistentes, capazes de sustentar o enorme peso dos troncos e copas no solo permanentemente encharcado.
Devido às altas temperaturas e ã riqueza de insetos, fungos e bactérias, as folhas se decompõem rapidamente, formando uma fina camada rica em matéria orgânica, principal responsável pela exuberância da mata. Na verdade, a riqueza nutritiva do solo das florestas tropicais e equatoriais é parte de um fenômeno denominado automanutenção da floresta.
Quanto ao solo, até há bem pouco tempo se acreditava que apenas uma elevada fertilidade poderia abri­gar tamanha riqueza vegetal. Mas, atualmente, com o avanço desenfreado da devastação, percebe-se que o solo fica extremamente empobrecido quando se retira a flora nativa, dada a aceleração dos processos de lixiviação e erosão.
A vida animal e vegetal nesse bioma é, evidentemente, muito diversificada. Como na Amazônia, a floresta equatorial africana detém uma enorme reserva de genes, alguns deles potencialmente muito valiosos, que ainda não foram usados pela humanidade. Porém, a ganância do homem está dizimando rapidamente essa formação vegetal. Basta lembrar que, na África, restam apenas 8% das florestas originais.
Entre as principais causas da destruição da flores­ta equatorial podem-se relacionar: a utilização agrí­cola do solo, a expansão demográfica, a exploração da madeira, a formação de pastagens para a pecuária extensiva.
· Paisagem do clima tropical - florestas e savanas
As regiões tropicais são quentes e alternada mente secas (inverno) e úmidas (verão). De fato, o clima tropical jamais registra temperatura média do mês mais frio inferior a 18°C ou chuvas anuais inferiores a 500 mm, tornando possível::a prática da agricultura sem irrigação.
Adaptadas a essa alternância de verões chuvosos e invernos secos, surgem as savanas. Essas formações vegetais ocorrem em ambos os lados do equador, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul, circundan­do as florestas latifoliadas equatoriais e estendendo-se até os limites dos desertos subtropicais: Saara, ao norte, e Calaari, ao sul. Nas áreas que apresentam solos mais Férteis, aparecem as florestas tropicais, que, apesar de guardarem grande semelhança com as florestas equatoriais, apre­sentam algumas espécies adaptadas às longas estiagens de inverno, que registra no mês mais seco índices plu­viométricos inferiores a 60 mm. Onde dominam as savanas, há maior amplitude térmica anual, porém sempre ­inferior a 12°C.
A savana é uma vegetação complexa, apresentando desde algumas árvores frondosas e arbustos até campos formados por ervas e gramíneas; esses campos vi­cejam no verão, mas ficam ressequidos no inverno, dificultando seu aproveitamento para a pecuária. As espécies vegetais de maior porte, como os arbustos e arvores, têm poucas folhas, geralmente pequenas, e cascas grossas, adaptação desenvolvida para diminuir a perda de água durante o inverno seco. Entre as árvores mais comuns nesta paisagem natural destacam-se a acácia e o baobá.

Os grandes desertos africanos

Limitando as savanas africanas ao norte e ao sul surgem dois grandes desertos, o Saara e o Calaari, caracterizad­os por índices pluviométricos sempre inferiores a 250 mm anuais. Tal cenário é agravado pela má distribu­ição das chuvas, que geralmente caem na forma de pancadas ocasionais. A falta de umidade no ar provoca uma grande variação da temperatura anual e, principalment­e, diária. No Saara, por exemplo, podem-se verificar temperaturas de 40 °C durante o dia e O °C durante a madrugada. Esse gigantesco deserto tem origem em dois importantes fatores:

· A passagem de correntes marinhas frias, que tangenciam o litoral atlântico nas latitudes de ambos os desertos. O Calaari é banhado pela corrente fria de Benguela, ao longo do litoral da Namíbia; o Saara é banhado pela corrente fria das Canárias, que tangencia o litoral do Saara Ocidental.
· As elevadas pressões subtropicais nesses dois desertos. O Saara é atravessado pelo Trópico de câncer, e o Calaari é cortado pelo Trópico de Capricórnio; assim, constituem áreas dispersoras respectivamente, dos ventos alísios de nordeste e de sudeste, que seguem para o equador.
Os desertos propriamente ditos têm uma vegetação xerófila extremamente pobre, destacando-se plantas do ­tipo bromeliáceas e as cactáceas. Essas plantas apresen­tam geralmente espinhos e raízes profundas. o Saara e o Calaari são cercados por faixas de tran­sição, dominadas pelo clima semi-árido e com vegetação de estepe: gramíneas dispersas e pequenos arbustos, que no conjunto não chegam a cobrir o solo. Nessas regiões, algumas tribos deslocam-se com seus rebanhos, sobretudo cabras e ovelhas, em busca permanente de pastos melhores.
Entre o limite sul do Saara e as savanas surge o Sahel, região semi-árida estépica, antigo reduto do pastoreio nômade. Porém, a contínua expansão de uma forma de agricultura predatória, com intenso uso de queimadas, desencadeou um processo de desertificação antrópica. O Saara chegou a se expandir até 10 km num único ano.
A partir dos anos 1990, no entanto, graças a um pequeno aumento das chuvas e à atuação de várias ONGs européias, que implementaram programas de re­cuperação ambiental de áreas degradadas, notou-se um recuo das áreas desérticas.

As paisagens climatobotânicas da América do Sul
Na América do Sul, os climas dominantes são muito semelhantes aos africanos. Essa similaridade se estende também às paisagens naturais, um reflexo da posição semelhante desses dois continentes quanto à latitude.
A semelhança dos climas africanos e sul-americanos pode ser constatada tomando-se como referência o equa­dor e o Trópico de Capricórnio: ambos são atravessa­dos por essas linhas imaginárias, redundando ainda na ocorrência de formações vegetais semelhantes. É o caso da savana, que, no Brasil, se apresenta como cerrado e caatinga.
No entanto, há muitas diferenças entre as paisagens climatobotânicas desses dois continentes, o que comprova a atuação de outros fatores climáticos, além da latitude. Vamos conhecer, então, as paisagens naturais sul-america­nas mais importantes que ainda não foram estudadas.
• Os desertos sul-americanos
Dois grandes desertos ocorrem na América do Sul: c Atacama e a Patagônia. O Atacama decorre da interação de dois fatores: a corrente fria de Humboldt, que banha o litoral norte do Chile, e os Andes, enormes dobramentos modernos que barram a penetração de ar úmi­do marinho para o interior do Chile e do Peru.
Por sua vez, a Patagônia resulta da atuação da cor­rente fria das Falklands (Malvinas), que tangencia o li­toral sul da Argentina. • As paisagens andinas
Já vimos que os Andes são um exuberante alinhamento montanhoso que se estende pela faixa ocidental da América do Sul, interligando os extre­mos sul e norte desse continente. M,­sim sendo, duas zonas climáticas, a temperada e a tropical, são cortadas por esses dobramentos modernos.
Na zona climática tropical, essas montanhas apresentam enorme varie­dade de paisagens nas encostas, regis­trando desde a presença de florestas latifoliadas tropicais no sopé até gelei­ras eternas no cume.
Seguindo em direção ao sul, já na zona climática temperada, as florestas latifoliadas desaparecem das encostas, substituídas por florestas de coníferas e campos. Ainda mais ao sul, em áreas de latitudes bem mais elevadas, neves eternas recobrem as montanhas, des­de a base até o cume.

As paisagens climatobotânicas da América do Norte

Os climas da América do Norte estão associados sobretudo a três fatores: a latitude, a altitude e as correntes marinhas. No entanto, nota-se uma relativa simi­laridade de suas paisagens climatobotânicas com aquelas que predominam na Europa. Tal fato decorre da localização geográfica desses continentes: ambos estão qua­se inteiramente situados na zona temperada do hemisfério norte.
As principais paisagens climatobotânicas norte-americanas são:
• Área de domínio do clima polar: a tundra
No extremo norte do Canadá, faixa de altas latitudes, predomina o clima subpolar, caracterizado por lon­gos invernos, que fazem com que a neve dure quase todo O ano. Nos breves períodos de degelo, surge a tundra, que, como vimos, constitui uma vegetação ras­teira muito diversificada, formada, sobretudo, por mus­gos e líquens.

• Área de domínio do clima temperado frio- taiga Trata-se de uma vasta faixa de terras que ocupa todo o centro do Canadá, dominada pelo clima temperado frio. Apesar de já registrar as estações bem definidas, seus invernos são mais longos, determinando a presen­ça da taiga. Essa floresta de pinheiros também é chama­da de floresta canadense ou boreal, sendo muito explorada pela indústria de papel e celulose. Hoje, po­rém, programas rigorosos de reflorestamento estão sen­do implantados para proteger esse bioma.

· Área de domínio do cli­ma temperado típico ­pradarias
Essa vasta área se estende do centro dos Estados Unidos ao sul do Canadá. As quatro estações do ano são bem caracterizadas e registram chuvas generosas, o que favorece a ocorrência das pradarias, extensos campos de gramíneas que recobrem todo o solo de forma homogênea.
Parte dessas pastagens natu­rais ainda são aproveitadas pela pecuária. No entanto, a expan­são dos grandes cinturões agrí­colas, voltados para a produção de cereais, sobretudo, ameaça de desaparecimento essa formação rasteira.
· Área tropical- pântanos e florestas latifoliadas
Essa área forma um arco que abrange o sul dos Estados Uni­dos (Flórida) e se estende até o México. Suas características são parecidas com aquelas apresen­tadas pelo clima tropical brasilei­ro: duas estações bem-definidas (verão chuvoso e inverno seco). Nessa área ocorrem alguns pân­tanos (os Everglades) e florestas latifoliadas, semelhantes à Mata Atlântica brasileira.
• Paisagens de montanhas Nas montanhas jovens, a al­titude é o fator climático mais atuante. É o que se nota nas Montanhas Rochosas (oeste dos Estados Unidos e do Canadá) e nas Sierras Madres mexicanas. Nessas localidades, predomina o clima frio de montanha, que fa­vorece o aparecimento de coníferas, seguidas de cumes com neves eternas. Os desertos norte-americanos
A altitude expressiva das Rochosas e das Sierras Ma­dres é responsável também pela oconência de desertos tanto nos Estados Unidos quanto no México. Esse fenômeno resulta da baixa umidade relativa do ar, que, inter­ceptado por essas montanhas, não carrega a já reduzida umidade oceânica (maritimidade) para o interior.

Particularidades da natureza da América do Norte

• A fraca influência marítima do Pacífico no litoral da Califórnia é responsável ainda pela ocorrência de um clima inusitado nessa área, o clima mediterrâneo. Aí o clima se assemelha tanto ao do sul europeu que propi­cia o surgimento de uma vegetação semelhante à medi­terrânea.
Mais ao norte, nas proximidades com o Canadá, as águas do Pacífico são mais quentes graças à Corrente do Japão, que tangencia o litoral e provoca grandes índices pluviométricos nessa área, que abriga cidades importan­tes, como Seattle (EUA) e Vancouver (Canadá).
Já nas proximidades de Nova York, do lado do Atlân­tico, atua a corrente marinha fria do Labrador, que, nos meses de inverno, chega a congelar o porto de Nova York e a foz do rio Hudson, em torno da qual ergueu-se a maior metrópole norte-americana.
Finalmente, é importante lembrar que, sobre o Gol­fo do México e o Caribe, notadamente nos meses de outono, formam-se furacões e tornados. Esses fenôme­nos têm início quando as massas de ar quente que atuam sobre as águas da região se chocam com as primeiras massas polares vindas do norte.

Paisagens climatobotânicas do Japão

Composto por mais de 3 mil ilhas distribuídas ao longo de um arco com cerca de 1.500 quilômetros de extensão no sentido norte-sul, o território japonês é fortemente influenciado pela latitude. Porém, as elevadas altitudes no interior do país, região muito montanhosa, atenuem as temperaturas, especialmente nas áreas mais afastadas do litoral.
As quatro ilhas principais do arquipélago, Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu, encontram-se totalmente no interior da zona climática temperada do hemisfério norte. Essa posição geográfica é responsável pelo pre­domínio de paisagens temperadas. Vamos conhecer melhor essas grandes ilhas, destacando a atuação dos principais fatores climáticos.
• Ilha de Hokkaido
Formada por montanhas jovens, que ocupam todo o seu interior, Hokkaido está situada nas proximidades do Círculo Polar Ártico. Sofre influência da corrente Oyashio (fria) e das massas polares; portanto, as nevas­cas e geadas são comuns durante quase todo o ano, o que justifica seu apelido de "País das Neves". É área de domínio do clima temperado frio, que determina a pre­sença da floresta de pinheiros.
Ilha de Honshu
Situada no centro, entre os dois extremos do país, é a maior ilha do arquipélago. É área de domínio do cli­ma temperado típico, com as quatro estações bem defi­nidas. A cobertura florestal é dominante. Ao norte, a floresta é mais homogênea, composta de coníferas, em função do rigor climático (inverno mais longo). Ao sul, é mais heterogênea, dominada por algumas espécies caducifólias (perdem as folhas no inverno), adaptadas à alternância de estações climáticas, alternada mente quente e fria.
• Ilhas de Shikoku e Kyushu
Na porção meridional do país, as ilhas de Shikoku e Kyushu são influenciadas pela corrente Kuroshio (quen­te). A intensa evaporação das águas dessa corrente for­ma muitas nuvens no interior das ilhas durante o verão, causando chuvas torrenciais, conhecidas como monções. Esse fato, somado às elevadas temperaturas provocadas pela atuação de massas de ar tropicais durante a esta­ção quente, origina um çlima tropical/subtropical do tipo monçônico. Assim, nessas duas ilhas surge uma floresta mais diversificada, composta inclusive por al­gumas espécies latifoliadas que não perdem as folhas no inverno.

A Asia das monções

Monções são as chuvas abundantes e torrenciais que atingem todo o sul, sudeste e leste da Ásia, entre o sul da Índia e o sul do Japão durante o verão. Veja sua dinâmica nos esquemas a seguir:
Nota-se que a alternância dos centros de altas e baixas pressões nessa porção da Ásia ocorre ao lon­go do ano, refletindo o ciclo das estações verão/in­verno.


A Ásia árida

A Ásia árida pode ser considerada um prolongamento do deserto do Saara, na África. Toda essa área corresponde às terras subtropicais de altas pressões, locais caracterizados pela formação dos ventos alísios. Esse fenômeno faz com que tais regiões sejam áreas emissoras de ventos. Afastadas dos oceanos, não recebem a influência da maritimidade e tornam-se, assim, enormes desertos.

A água

A cada ano fica mais claro que a água é um recurso que caminha para uma situação de extrema preocu­pação. Somente 3% a 5% da água existente no mundo
está disponível para a utilização humana. Os restantes 95% são constituídos pela água salgada dos oceanos.
Toda a água existente passa por um ciclo de renovação. Esse ciclo natural, porém, pode ser afetado negati­vamente por muitos problemas, prejudicando qualitati­va e quantitativa mente a disponibilidade de água doce utilizável pelas pessoas:
· a devastação das florestas, que pode diminuir a evaporação;
· a ocupação de terrenos montanhosos ou a devas­tação das margens dos rios pode eliminar fontes de água ou dificultar o acesso a elas;
· a urbanização e a conseqüente impermeabilização do solo pode levar a água das chuvas a se mistu­rar com os esgotos das cidades.
Os riscos são cada vez maiores, e a distribuição das águas e das chuvas é desigual. Existem regiões do pla­neta extremamente favorecidas pela incidência de chu­vas. Geralmente são cobertas de florestas e situam-se na faixa equatorial do planeta, onde o calor intenso provoca forte evapotranspiração e contribui poderosamente para a manutenção do ciclo da água.
Em outras áreas, como nos desertos, pode chover somente uma vez por década. Essa distribuição irregu­lar é também um dos motivos de grandes tensões entre países que disputam as mesmas fontes de água.
Nesse contexto, os rios do planeta são muito impor­tantes, pois servem tanto para irrigação quanto para o abastecimento. O seu débito fluvial, ou seja, o volume de água que escoa por um rio, pode definir o futuro e o destino de uma região. Com a ação predatória do homem, em escala mundial, muitos rios estão ameaçados pelo processo de assoreamento.
Quase todos os países têm leis rígidas para a preser­vação das margens dos rios, porém em muitos casos é extremamente difícil exercer uma fiscalização eficaz, fato que tem decretado a morte de muitos rios e piorado ainda mais a situação das águas do planeta.


Os grandes rios da Africa

• o maior rio africano é o Nilo, o segundo mais ex1en­so do mundo. Apesar de atravessar uma extremidade do Saara, jamais seca. Isso ocorre porque suas nascen­tes se encontram no coração da África, região em que predomina o clima equatorial, com chuvas abundantes durante o ano todo. Dessa forma, o Nilo tem sido, há séculos, vital para a economia do Egito.
No passado, suas águas transbordavam periodica­mente e fertilizavam todo o vale, que era sistematica­mente aproveitado pela agricultura do tipo jardinagem. Desde os anos 1950, todavia, esse fenômeno não ocorre mais, devido à construção de duas enormes hidrelétri­cas (Assuã e Assiut), que passaram a controlar o fluxo das águas do Nilo. O que gerou um intenso êxodo rural, aliás, pois apenas os agricultores que dispõem de capital conseguem implantar sistemas de irrigação, que exigem equipamentos mais sofisticados e, portan­-0, caros. O rio Congo, por sua vez, destaca-se por apresentar o segundo maior volume de água do mundo, depois do Amazonas. Além disso, esse rio atravessa um relevo planáltico, em grande parte, o que lhe confere um gigantesco potencial hidrelétrico. Porém, a pobreza dos países banhados pelo rio Congo impede o aproveita­mento de toda essa energia hidráulica .

Os principais rios da Europa

• A bacia do rio Rena é famosa por abrigar o Vale do Ruhr, a área mais intensamente industrializada da Euro­pa. Situada na Alemanha, essa região possuía grandes reservas carboníferas, que impulsionaram o desenvol­vimento das indústrias de base na época da Revolução Industrial. Além disso, o Rena é quase totalmente nave­gável, permitindo o escoamento da produção industrial alemã para o movimentado porto de Roterdã, na Holanda.
As cabeceiras do rio Pó, o maior rio do norte da Itália, drenam uma rica região industrial, formada pelo Eixo Milão-Gênova- Turim. O resto do curso constitui um fér­til vale intensamente utilizado para o cultivo de cereais.
O rio Volga, o mais extenso da Europa, atravessa a Planície Russa. Apesar de congelar no inverno, é muito usado para a navegação. Além do mar Cáspio, onde deságua, o Volga está ligado por canais artificiais tam­bém aos mares Branco e Báltico, situados no norte, e ao mar Negro, no sul.
O rio Ródano, assim como o Rena, nasce nos Alpes
Centrais (Suíça). Em seguida, segue para o sul, penetra em território fran­cês e deságua no Mediterrâneo, nas proximidades do porto de Marselha (França). A construção de várias eclu­sas tornou-o navegável. Além disso, numerosos canais o integraram a outros rios, como o Reno, que, como vimos, também nasce nos Alpes suíços e, em seguida, segue para o norte (Alemanha e Holanda). Vale lembrar ainda que o desen­volvimento do transporte hidroviá­rio na Europa não se deve apenas à existência de vários rios navegáveis. É preciso destacar que muitos ca­nais foram construídos, possibilitan­do a integração hidroviária de toda a Europa. Trata-se, em última análi­se, de uma estratégia planejada que, posta em prática ao longo de mui­tos anos, permitiu a efetiva integra­ção socioeconômica de todo o continente.Norte

• Interligando os Grandes Lagos e o Atlântico, o rio São Lourenço é a principal porta natural de ligação do Canadá com o mundo. Além disso, os Estados Unidos construíram um canal artificial para acessa-Io a partir do rio Hudson, que banha a cidade de Nova York. Esse canal acabou possibilitando a ligação hidroviária entre os portos de Nova York e Chicago, cidade situada ao sul do Lago Michigan.

No oeste da América do Norte, alguns rios são encachoeirados, apresentando grande potencial hi­drelétrico. O mais famoso é o Colorado, cujo leito forma o Grand Canyon. Outros, como o rio Mackenzie, localizado no noroeste do Canadá, fo­ram fundamentais para a exploração madeireira e de ouro, durante a fase da colonização.

Já o rio Yukon, que corta o Alasca, foi a princi­pal via para o povoamento e o desenvolvimento de atividades econômicas nesse território.

Na porção central, o relevo baixo e plano é drenado pelos rios que compõem a bacia do Mississippi-Missouri, utilizados como hidrovia de transporte da produção dos cinturões agrícolas dos Estados Unidos (belts).
Principais rios da Asia

• o rio Jordão - cujas nascentes ficam nas colinas de Golan, território sírio dominado por Israel desde 1967 ­corta a Cisjordânia e é importante para a irrigação do deserto de Jegev, ao sul de Israel, bem como para o abastecimento do mar Morto.
Os rios Tigre e Eufrates nascem na Turquia, cru­zam a Síria e o Iraque e se juntam perto da foz, no golfo Pérsico, formando o Chatt Al-Arab, na verdade m grande canal de 193 km. Esses rios são importan­-es fontes de água e meio de transporte nessa imensa região árida do Oriente Médio. O rio Huang-ho (rio Amarelo) corta a parte setentrional da planície chinesa, sendo fundamental como fonte de água para irrigação de gigantescas plantações de ar­roz e trigo.
O Yang-tsé (rio Azul) nasce nos planaltos e nas altas montanhas do oeste da China. Para aproveitar suas cacho­eiras, o governo chinês está construindo a usina hidrelétri­ca de Três Gargantas, considerada uma das maiores obras de engenharia do mundo. Essa usina deverá produzir ener­gia para incrementar a recente industrialização chinesa, mas vai produzir um grande impacto socioambiental, uma vez que as represas deverão inundar imensas áreas férteis, exigindo o deslocamento de milhões de pessoas.
Os rios Ganges e Indo cortam a planície norte da Índia e são considerados sagrados pela população des­se país. Junto com seus afluentes, são fundamentais para a irrigação de vastas áreas agrícolas.
O rio Mekong também nasce no Himalaia. Corre no sentido sudeste pelas extensas planícies da Indochina. O maior trecho percorre o território do Vietnã, onde é fundamental para o desenvolvimento da rizicultura.

sábado, 1 de novembro de 2008

ciclo IV inicial

A fome no mundo


GE o P o L I T I CA As potências agrícolas estão no limite
de suas produções e os biocombustíveis são necessários. Cultivar alimentos nesse cenário é desafio que se impõe



A questão alimentar está no centro da agenda in­ternacional em 2008, e aí deve permanecer du­rante um bom tempo. Manifestações populares ao "Sul" do planeta, México, Indonésia, Haiti e Costa do Marfim, expuseram um problema emergencial: faltam alimentos. As principais organizações intergovernamentais (OIGs), instâncias em que têm mais voz os representantes do "Norte" do mundo, quase que em conjunto descobriram o culpado pela alta dos preços dos ali­mentos: o biocombustível. A acusação foi duramente rebati­da pelo governo brasileiro. Nas palavras do presidente Lula, os subsídios agrícolas impostos pelos países ricos são os res­ponsáveis pela atual alta do preço dos alimentos.
A crise desperta um paradigma: como pode haver carên­cia de alimentos em um mundo que vive o esplendor da re­volução tecnológica e colhe o seu conseqüente aumento de produção agrícola?
São vários os fatores, inclusive ocultos, que levam milha­res de pessoas a passar fome, pela ausência de alimentos ou pelos altos preços. Abaixo, uma reflexão sobre as principais variantes que nos ajudam a compreender esse que parece ser o grande desafio do início do século XXI. De imediato, é possível afirmar que, entre os motivos da atual crise, está descartada a perspectiva neomalthusiana, que apostava em um crescimento demográfico maior do que a produção agrí­cola. Certamente, não foi isso o que se observou.

Agroenergia vs. produção alimentar

Atribuir o papel de vilão exclusivamente à expansão da cana­de-açúcar (no Brasil) e do milho (nos EUA), como fizeram o FMI e o Banco Mundial, não é um caminho razoável. Tam­pouco é possível isentar a responsabilidade dos biocombus­tíveis, como fez o presidente Lula.
Um estudioso da questão agrária brasileira, o geógrafo Ario­valdo Umbelino de Oliveira, em artigo recente publicado no jornal Folha de S.Paulo mostrou com dados do IBGE que a ex­pansão dos biocombustíveis compromete a produção alimen­tar. A ampliação de áreas canavieiras nos últimos 18 anos cres­ceu na mesma proporção da diminuição das áreas de cultivo do arroz, do feijão e da mandioca. Segundo Oliveira, tomando-se

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CARTA NA ESCOLA 27


os municípios que tiveram ex­pansão de mais de 500 hecta­res de cana no período, verifi­ca-se que, neles, ocorreu a re­dução de 261 mil hectares de feijão e 340 mil hectares de ar­roz. Essa área reduzida pode­ria produzir 400 mil toneladas de feijão, ou seja, 12% da pro­dução nacional. E 1 milhão de toneladas de arroz, o que equi­vale a 9% do total do Brasil.
O pesquisador da Unicamp Antonio Márcio Buainain mi­nimizou a pressão dos agroe­nergéticos sobre a lavoura de gêneros básicos. Para ele, a cana cresce sobre as áreas de pecuária extensiva: o setor canavieiro encontra oferta de terras mais baratas em pasta­gens degradadas. Não inte­ressa ao setor, ao Estado nem à sociedade uma expansão selvagem da cana.

Potências demográficas e comensais
Dos cinco países mais popu­losos do globo, quatro estão fora do eixo primeiro-mundista e três apresentaram melhoria econômica nos últimos anos. São eles: China, Índia e Brasil - especialmente os dois pri­meiros. Isso, obviamente, repercutiu em maior demanda por alimentos, pressionando as demais áreas do planeta. A ten­dência é que China e Índia continuem trilhando o caminho do crescimento a passos largos, enquanto para o Brasil são esperados passos não tão rápidos.
O fato a se considerar é que a China e a Índia somam 2,5 bilhões de habitantes, aproximadamente 40% da população mundial. Os próximos anos dirão se esses países desejarão ter o mesmo padrão de consumo do Ocidente. Se sim, o meio ambiente pagará caro por isso.

Petróleo VS. alimento
Em 2004, o preço do barril de petróleo situava-se na casa de 40 dólares. Em quatros anos, o seu preço triplicou. O efeito de tal escalada atua como metástase nos mais varia­dos segmentos da economia, visto que o "ouro negro" ainda configura-se como lastro energético mundial. Na agricultu­ra, o impacto é imediato, seja no processo de escoamento dos produtos, seja na utilização de fertilizantes oriundos do petróleo. Logo, a alta do barril do produto, atualmente em torno de 120 dólares, reflete inevitavelmente na produção e distribuição alimentar.

Reflexos ambientais
O clima comprometeu algumas áreas produtoras. Uma delas

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POTÊNCIA. Aumento
do consumo na China colabora com a escassez de alimentos

é Bangladesh, país que está próximo da auto-suficiência e quase não depende da impor­tação de alimentos para a so­brevivência de uma população de 135 milhões de habitantes. Mas a Austrália é importante fornecedora mundial, com uma produção excedente, con­seqüência direta de sua escas­sa demografia. Uma longa es­tiagem nesse que é o sexto maior país do mundo reduziu drasticamente a sua produção.

A especulação das commodities
As commodities no mercado futuro alimentam imensamen­te a especulação financeira. Acreditando que o futuro guar­da uma alta ainda maior no preço dos alimentos, o setor financeiro atraiu um grande número de jogadores no cir­cuito, que nada contribui para a situação de momento.

A agricultura mundial contemporânea
China, Índia, Estados Unidos, Rússia, Brasil e França são as grandes potências agrícolas mundiais. Contudo, quase todos esses países estão no limite de suas produções, não tendo mais como expandir as respectivas fronteiras. As tecnolo­gias agrícolas que compensam a limitação territorial já há algum tempo foram incorporadas. A exceção fica por conta do Brasil. Atualmente, dono do maior potencial agricultável (em torno de 70% de suas terras), o País conta ainda com o mais valorizado ingrediente agrícola do momento: água.
Quando se enxerga o Brasil como o "celeiro do mundo" e o quanto o país ainda pode agregar à sua produção, os es­tudiosos consideram que a maior potência agrícola do mundo, os EUA, tem toda sua produção de grãos concen­trada em uma área de, aproximadamente, 1,5 milhão de quilômetros quadrados.
Só na porção inexplorada do Centro-Oeste, o Brasil teria uma área similar. Contudo, trata-se de uma difícil equação: compatibilizar expansão agrícola e preservação ambiental. É praticamente impossível uma expansão em direção ao Cerrado que não comprometa a sua flora e fauna.
Atualmente, o agronegócio, que inclui agricultura, pe­cuária e agroenergia, responde por um terço do PIE brasi­leiro, além de representar 42% da pauta de exportações do País. A perspectiva de incremento no setor é das mais oti­mistas. Logo, o meio ambiente corre riscos efetivos.

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Doha e a produção de alimentos
Concebida como principal mecanismo para reduzir as bar~ [eiras alfandegárias no comércio internacional, a Rodada de Doha, iniciada em 2001 e com término previsto para 2006, mergulhou em profundo impasse.
A polarização verificada entre países ricos de um lado e pobres do outro teve na questão dos subsídios agrícolas o centro dos debates. Nas várias negociações que se sucede­ram não se chegou a um bom termo. Na Rodada de Cancún, no México, em 2003, a polarização se radicalizou, provo­cando o fracasso do evento.
Nesse encontro, o Brasil liderou um movimento que veio a ganhar importância na agenda internacional: o G-20, cons­tituído por 20 países "em desenvolvimento." Na realidade, a força do G-20 está assentada em quatro países emergentes e com interesses comuns: Brasil, China, Índia e África do Sul.
O estreitamento com esses três países passou a ter priorida­de na agenda da política externa brasileira. As viagens do pre­sidente Lula a todos eles nos últimos tempos não foi mera coin­
cidência. Detalhe importante: as três potências demográficas respon­dem por, aproximadamente, metade da população mundial, além de se­rem grandes potências agrícolas. Tal situação as coloca em uma situa­ção de igualdade, ou até superiori­dade, em relação aos países ricos.

A próxima etapa de negociações ocorrerá em Genebra, na Suíça, mas não se sabe ao certo quando. Estava prevista para junho de 2008, mas foi prorrogada. Contudo, incluirá, cer­tamente, a nova realidade alimentar exposta recentemente e esse aspec­to conta a favor dos argumentos dos países pobres em sua luta pela
redução dos subsídios das potências do Norte, leia-se, Esta­dos Unidos e França, os dois maiores entraves a um acordo.
A Organização Mundial do Comércio (OMe) tornou-se importante fórum de debates aos países do Sul, por ser uma instância mais democrática que outros organismos. Na ONU, no Banco Mundial ou no FMI, a relação é desigual. Os países ricos têm privilégios nas decisões, pois o voto não é paritário. Já no organismo comercial, para cada país, um voto.
vernamentais culminaram com a criação do Programa! - a­cional do Biodiesel, em 2004.
A renovação da matriz energética brasileira tem como ins­trumento legal a obrigatoriedade do uso do biodiesel, basea­do em fontes de energia renováveis em substituição ao diesel comum, oriundo de combustíveis fósseis. Apontam-se inú­meras vantagens do Brasil em relação às demais nações do mundo para a fabricação de biodiesel: a grande extensão e biodiversidade do território brasileiro e, conseqüentemente, na diversidade de fontes de matérias-primas, no potencial de expansão agrícola, na experiência com o Proálcool e na exis­tência de uma consolidada indústria de óleos vegetais.
O discurso corrente no governo atual procura atrelar a fa­bricação do biodiesel com o desenvolvimento da agricultura familiar, porque utilizaria essencialmente óleos vegetais oriundos da mamona, do dendê, do girassol e do pinhão­manso, entre outros. Contudo, o mercado tem se direciona­do à soja, devido à superior rentabilidade econômica dessa lavoura em relação às demais culturas vegetais.

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS DAS POTÊNCIAS AGRíCOLAS MUNDIAIS



China: arroz. trigo. milho. soja. algodão. batata e cana de açucar.
Estados Unidos: soja. trigo. milho. laranja e algodão.

índia: arroz. feijão. bigo. chá e cana-de açúcar.

Rússia: trigo. batata e cevada. Brasil: cana-de-açúcar. café. laranja. algodão. soja. feijão. anoz. banana e mandioca.

França: bígo. soja. CEMIda. aveia. Qéterraba e uva
Brasil: produção alimentar e agroenergia
A segurança alimentar, nutricional e energética é área estraté­gica de qualquer nação. Portanto, ela deve estar no centro das políticas públicas, considerando as conseqüências econômicas e as possíveis implicações sociais, políticas e territoriais.
No Brasil, as preocupações com a segurança alimentar co­meçaram a ganhar destaque com os estudos de Josué de Cas­tro, na década de 1930. Desde então, esboçam-se propostas de políticas públicas visando o abastecimento alimentar.
Em relação à política energética do Brasil, há, desde a dé­cada de 1970, experiências com a produção de biocombustí­veis, derivados de biomassa renovável. As recentes ações go-
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Diante do atual cenário mundial que promete elevar signi­ficativamente o consumo de biomassa, em substituição aos derivados de petróleo, a agricultura familiar não pode se res­tringir à produção de óleos vegetais para a indústria, sob pena de pôr em risco a própria existência. Fortalecer a agricultura familiar é ao mesmo tempo dar condições para que esses agri­cultores diversifiquem a sua produção, incorporem novas tec­nologias e consigam se inserir no mercado competitivo.
A produção familiar voltada para as indústrias de biodiesel parece ser um possível caminho, desde que se cumpra a lei que determina no contrato de compra e venda a prestação de serviços e a capacitação técnica por parte do produtor de bio­diesel a todos os agricultores familiares e fornecedores das matérias-primas às usinas de fabricação de biodiesel.
Segundo análises realizadas, em 2003, por Alfredo Tsune­chiro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), o valor da produção dos 70 principais produtos agropecuários no Brasil somou 158,3 bilhões de reais. Mas apenas quatro de­les concentraram 52,3% do total do valor da produção agro­pecuária: soja, carne bovina, carne de frango e milho.
A Região Centro-Sul correspondeu a 82% do total do valor
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da produção agropecuária (129,7 bilhões de reais). Ao estado de São Paulo, que possui a maior diversidade de produção agrí­cola do País, coube a liderança com 15,2% do total do valor da produção agropecuária brasileira, ou 24 bilhões de reais.
Analisando o caso particular de São Paulo, com base em outros estudos realizados pelo IEA, fica claro que, em 2008, o valor da produção foi um determinante da escolha do plan­tio. A cana-de-açúcar representa o principal produto no va­lor da produção paulista, correspondendo a 29,4% do total.
Das 15 regiões de governo do estado de São Paulo, dez têm na cana-de-açúcar o produto de maior valor da produção agropecuária. Apesar de a expansão da cana alterar a confi­guração regional da atividade agrícola, os pesquisadores con­cluíram que, nos últimos anos, essa cultura tem avançado predominantemente sobre as áreas de pastagem cultivadas.
Do exposto depreende-se que a falta de alimentos, ou a in­capacidade de produzi-los, não é o problema. O professor Re­nato Maluf, estudioso da questão alimentar e presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), adverte sobre a importância da regulação pública sobre as condições de produção e distribuição dos alimentos.
Uma política nacional de segurança alimentar e nutricional deve atentar para a história da formação do território brasileiro, das desigualdades sociais e territoriais. Ou seja, a fome e a desnu­trição estão mais concentradas em alguns espaços do Pais do que em outros. Há de se considerar, inclusive, a diversidade cultural em relação a hábitos alimentares e sistemas técnicos agrÍcolas.
Durante o século XX, o processo de padronização dos há­bitos alimentares no mundo inteiro foi facilitado pelo cres­cimento do processamento industrial de alimentos. A globa­lização da economia, por meio do avanço nos sistemas de transportes e comunicações, contribuiu para a difusão em escala mundial de alimentos fabricados pelas grandes cor­porações da indústria alimentícia.
É nesse contexto que o sociólogo Boaventura de Souza Santos afirma que a fome do mundo é a nova grande fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na mesma proporção que a fome.
Para o Brasil, são imperiosas as ações regionalizadas para a implementação de políticas públicas que visem a proble­mática alimentar e nutricional. É urgente conciliar política de segurança alimentar, nutricional e energética com uma política ambiental para um (re)ordenamento do território brasileiro. O planejamento das ações para cada uma dessas esferas, longe de ser conflitante, deve ter um foco comum: a soberania nacional, a qualidade de vida e a promoção de maior igualdade entre as pessoas. _
SAIBA MAIS
• Filmes
Ilha das Flores, direção de Jorge Furtado, 1989,
Brasil, 12 minutos.
Syriana, direção de Stephen Gaghan, 2005, Estados Unidos, 126 minutos.
Competência Compreender processos geográficos e históricos
Habilidade
Interpretar o processo de territorialização da produção
Atividade
l-Oriente os alunos a pesquisar sobre
os sistemas de produção das potências agrícolas
e compará-Ias. Por exemplo: a) A índia e a técnica
da jardinagem .
b) Jardinagem e terraceamento na China.
c) O alto emprego tecnológico da agricultura empresarial norte-americana. d) A mecanização
da agricultura brasileira.

2-Com base na matéria e em outros recursos didáticos, discutir com os alunos:
a) Quais são os grandes exportadores mundiais
de gêneros agrícolas?
b) Quais são os grandes importadores de alimentos? c) Existem países que mesmo sendo grandes produtores importam alimentos? Por quê?